Ouço passos incertos na noite
Que se confundem com o sibilar do vento
Mas que se avizinham
Mais e mais em cadência grave,
Soturna, em direcção
À minha porta fechada
Nas aldrabas da solidão.
Mais se avizinham os passos
Maior é a incerteza
Que dentro de mim se implantou
Se, esse ser, talvez feito em farrapos,
Talvez elegantemente adornado,
Parará junto da minha porta,
Aferrolhada, isolada,
Mas que a todo o transe
Espera por alguém!
Será esse ser, esfarrapado,
Regelado pela invernia,
Cujos passos soturnos,
Calcando a lama e a podridão
De toda a escomalha que rodeia
A minha porta, que eu espero?!
Batem à porta!
Fico estático junto ao fogão
Coberto de pó que a criada
Não limpou.
Esse ser mesquinho que deambula
Por todo o lado, de espenejador na mão,
Mas incapaz de realisar algo
Digno de qualquer assomo de louvor
Da minha parte!
Assim fico, por longo espaço de tempo,
Quedo e mudo,
Cogitando apenas nas minhas locobrações,
Olhando a cinza daquele velho fogão,
Gasto pelo tempo,
Pensando no que a criada
Poderia ter feito e não fez!
Batem à porta!
Aquele bater leve, incerto,
Não conseguiu despertar
A minha consciência do sonho
Quase profundo em que se afundara
No abismo do pensamento!
Assim permaneci a sonhar acordado
Sem conseguir arredar pé daquele calor
Que o velho fogão emanava
E dirigir-me à porta e abri-la!
Batem à porta!
Três pancadas fortes
De mão leve mas segura!
Batem à porta!
Essa porta a minha porta,
Fica fechada, aferrolhada,
Insencivel ao chamamento,
Ao eco da realidade premente
Que tenta despertar o meu EU,
Adormecido pelo torpor
Das vicissitudes da vida,
Encerrado no egoismo da solidão!
Esta porta fechada,
Aferrolhada, desiludida,
Que se nega a aceitar
O chamamento do Amor…
É este meu pobre Coração!!!
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
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