sexta-feira, 27 de março de 2009

A RAPOSA E O GALO

Empoleirado sobre uma arvore
Cantava o galo sua matinal trova
Quando ouviu uma estranha nova
Da sua esperta e sagaz comadre

Compadre! Diz a raposa toda afoita
Nova lei acabam de publicar
P”la qual as guerras mandam acabar
Entre os animais da mata e da moita.

Desça compadre, pede a manhosa,
Venha daí, vamos celebrar,
Um grande abraço lhe quero dar,
Pois esta terra agora é só nossa.

Ouvindo o galo tão estranho pedido
Tentou primeiro se informar,
Quem tal lei mandara publicar
Pois seu nome nunca fora ouvido.

A raposa muito perturbada
Ainda com maior vigor lhe pedia
Pensando que o galo desceria
Caindo na sua astuta cilada.

Então diz-lhe o galo de repente:
Vejo galgos correndo em desgarrada
E caçadores de arma aperrada
Vindo das bandas do oriente!

Quando ouviu aquela informação
A raposa gritou: só faltava essa!
Deitando-se a fugir a toda a pressa
Por entre as ervas, cosidinha ao chão

Na sua rouca voz gritava
O galo, para a comadre atrevida,
Mostra-m:essa lei de todos sabida!
Mas ele mais corria e não parava.

terça-feira, 24 de março de 2009

O COELHO BRANCO

Na aldeia onde eu nasci havia uma familia que possuia uma grande propriedade onde,além duma bela casa, muito bem cuidada, criavam animais que faziam parte
do consumo annual da sua alimentação e entre eles a criação de coelhos era muito
importante.
Um dia o pai dessa familia chamou por mim e qual não foi o meu espanto quando
ele me ofereceu um coelhinho muito branco. Delirante de alegria corri para casa com
o meu coelho nos braços ansioso para chegar e pedir ao meu pai para fazer uma casa
de madeira para criá-lo.Meu pai, comovido pela minha alegria, deitou mãos à obra,
porque ele era carpinteiro de profissão, não levando muito tempo para que a nova casa
do meu coelho ficasse construida.
No mundo não havia nada que tanto valor tivesse para mim como aquele coelho.Todo
o tempo que me restava, depois de voltar da escola e cumprir com os afazeres que me
eram destinados, era passado junto da casinhola a tartar dele.
Como ele era por mim muito bem cuidado cresceu rapidamente a ponto de me sentir
orgulhoso de ter um coelho grande e muito mansinho a ponto de convidar os meus amigos e amigas de escola a virem vê-lo e brincar com ele. Na propriedade onde estava
situada a nossa casa, além de um terreno cultivado de vinha, havia uma horta onde o
meu pai cultivava hortaliças e legumes todo o ano. Era nela que eu, tirando o coelho da
sua casota, o soltava para ele se alimentar livremente. Assim ele foi-se habituando àquela
maneira de se alimentar correndo na horta como e quando queria sem nunca de lá fugir
ou causar quaisquer problemas quando chegava à hora de regressar à sua coelheira.
Passaram-se semanas e meses naquele são conviver entre mim e o coelho de quem eu
mais-gostava dia após dia..Como tudo na vida não é só alegria e felicidade a tristeza e
alguns dissabores também fazem parte do dia a dia da nossa existência.
Para confirmar esta realidade um certo dia, ao regressar da escola, notei que a porta da
coelheira estava aberta e o meu coelho branco não se encontrva lá dentro. Corri a horta
de lés a lés à sua procura pensando que alguém, talvez minha mãe, o tivesse solto para
ele ir comer
Como não o encontrei corri para casa a perguntar à minha mãe se ela tinha solto o coelho
ou se alguém o teria levado porque a coelheira estava aberta e já o tinha procurado
percorrendo a horta toda sem o encontrar.Minha mãe comovida com a minha ansiedade
e tristeza chamou-me para junto de si e encostando a minha cabeça ao seu peito tentou
consolar-me com palavras camufladas por um certo desconforto dizendo que Deus tinha
criado os animais para servirem o ser humano cada um da sua maneira, servindo uns para dar alegria e ajudar os homens nos seus trabalhos, outros protegiam os seus donos e a maior parte deles, além dos serviços..que prestavam, serviam para alimento, com a sua carne,a qual era usada em diferentes guisados conforme o seu paladar e entre os animais
que eram usados como alimento, encontravam-se os coelhos.
Quando minha mãe mencionou o nome de coelho as lágrimas brotaram dos meus olhos
como rios em catadupa porque foi naquele preciso momento que eu compreendi que o
meu coelho já não estava vivo e que iria server de manjar para toda a familia.
Grande foi minha dor e tristeza que sempre chorei, mesmo até no dia seguinte, quando todos se encontravam sentados à mesa saboreando o meu coelho, eu continuava a chorar
e sem coragem ou apetite para comer o meu coelhinho branco de quem eu tanto gostava.

UMA BORBOLETA

Eu ia amiúde para casa de minha avó onde passava uma grande parte do dia sentado num pequeno muro de pedra que alí existia e que muitas vezes servia como assento de descanso para minha avó, admirando uma borboleta, fascinado pelas suas cores e pelo
seu saltitante vaivém de flor em flor,beijando uma poisando noutra até que,adevinhando
estar na hora de partir, lá ia ela à procura do seu ninho para pernoitar até ao raiar de novo dia. Aquela borboleta toda matizada das mais lindas e variadas cores muito gostava das
flores que minha avó cultivava no jardim em redor da sua casa,e eu pensava que ela
sentia uma especial atracção por aquelas flores porque todas as primaveras, quando elas
começavam a desabrochar, lá vinha a borboleta, que eu chamava matizada.passar os seus
dias no meio delas..
Assim que o sol, brilhando no alto firmamento, irradiava sobre a terra o seu calor a
borboleta voltava ao seu jardim predilecto, onde eu já a esperava ansiosamente,
sentado no mesmo muro, para admirar enlevado as lindas cores das suas asas.Passava
horas ali sentado, com os olhos fixos naquela borboleta e talvez por essa razão a minha
avó,viuva de meu avô António, sendo por isso conhecida por tia Antonica,cultivava
sempre as mesmas qualidades de flores para que a borboleta voltasse todos os anos ao
seu jardim. Eram malmequeres, jasmins, amor-perfeitos, dálias e outras mais que aquela
velhinha, de quem eu tanto gostava, tinha o gosto e o prazer de cultivar sendo o seu melhor passatempo as horas que despendia cuidando das suas flores.
A minha avó sentia-se muito lisonjeada quando alguém, ao passar, lhe dizia, lindas flores
tem a tia Antonica , que rico perfume elas exalam e como gosta delas aquela borboleta
tão linda!
BORBOLETA

O matiz da tua cor
Com que nasces enfeitada
Quem te o dá é a flor
Quando por ti é beijada

As tuas cores são belas
De muitos tons variadas
Lembram lindas aguarelas
Em ricas telas pintadas

Borboleta meu encanto
Não me deixes ficar só
Sentado neste recanto
Do jardim de minha Avó

Fica comigo, vem cá,
Poisa aqui na minha mão
Não te vás embora tão já
Olha que me entristece o coração

segunda-feira, 9 de março de 2009

O MENINO DO SEU PAI

Nasceste sorrindo
E o teu sorriso quase divino
Era alegria
Que inundava o coração
E me tornava feliz
Quando choramingavas
Tomava-te nos braços
E aconchegando-te a mim
O teu choro parava
E teus lábios se abriam
Naquele sorriso encantador
Que transbordava felicidade
Porque tu eras
O menino do seu Pai !
Foste crescendo
A tua sabedoria e bondade
Fizeram de mim,
Um Pai orgolhoso
Do seu menino!
Um dia,já homem,
Resolveste edificar o teu ninho.
Quando tal aconteceu
Grande foi nossa alegria
E felicidade!
Mas,um certo dia,
O teu sorriso se esvaneceu,
Ficaste triste,
A tua alegria contagiante
Emudeceu
Porque o menino de seu Pai
Adoeceu..
Qual raio fulminante,
A doença tomou conta do teu ser,
O sofrimento e a dor
Não mais te deixaram sorrir,
Até que um dia,
Já num leito deitado,
Sem te poderes mexer,
Exausto de forças para lutar,
Suspiraste dando o ultimo ai!
Em pé, ao teu lado,
As lágrimas nas faces rolando
Fitando o teu rosto pálido
Impotente por nada poder fazer,
Compreendi,
Que, naquele preciso momento,
Já sem alento,
Tinha falecido,
O menino de seu Pai!

CRIANCA

Cheia de fome e frio
Vai uma criança para a escola
No ombro carrega a sacola,
Levando o velho livro,com brio.

Pés descalços, doloridos
Pelas agruras do caminho
Caminhando vai, sozinho,
Derramando lágrimas e gemidos.

Não lhe podem dar mais
Porque parcos são os ganhos
E da pequena eira os amanhos
Dos pobres queridos pais.

À tarde, quando a casa regressa,
Nos braços da mãe se aconchega
Que amor e carinho não lhe nega
Enquanto,na lareira,o caldo apressa.

A sopa de todos os dias
Também chamada dos pobres,
Mas que vai à mesa dos nobres,
Embora com mais iguarias.

Quando a noite fria cai
A pobre criança o leito procura
Mas nunca sem uma ternura
E a benção da mãe e do pai